Queiramos ou não, somos a continuação de nossos pais. Herdamos qualidades, trejeitos, o semblante. E às vezes, por azar, os defeitos que mais odiávamos.

Paramos o carro quadras longe do destino, só para ter certeza de não ficarmos sem vaga. Desenvolvemos manias e hábitos, até esbravejamos. A chatice, mais que a cor dos olhos, é hereditária. Está escondida em algum lugar do seu DNA.

Quando nos damos conta, já estamos na metade daquele velho sermão para nossos próprios filhos. Ideias que um dia pareciam ladainha, hoje fazem sentido do outro lado da moeda.

Crescer não é ficar parecido com seu pai. Afinal, você nunca vai usar aquela pochete de couro, muito menos perdê-la diversas vezes com os documentos da família toda.

CRESCER É RECONHECER

Crescer é reconhecer todas as lições que ele deixou. O caminho que seu pai abriu para você chegar até aqui. É agradecer o esforço, os conselhos.

É ter aquele pensamento fulminante: “Deveria ter escutado meu pai”. Lembrar das divergências, mas principalmente da parceria.

Do primeiro banho de mar, de um domingo no circo. Empurrando você numa onda com a prancha de isopor ou um rolê de skate com equipamentos dos pés à cabeça. Até de uma fila interminável num filme no cinema.

Essas memórias talvez sejam nosso maior bem. É o que vai ficar de mais precioso da pessoa que estava do nosso lado muito antes de lembrarmos de qualquer coisa.

Sorte de quem tem um pai parceiro. Que busca o difícil equilíbrio entre liberdade e disciplina.

Que sabe ensinar, mas também aprender. Que não falte com peixe, muito menos a vontade de ensinar como pescar.

QUE NÃO FALTE CORAGEM

Que não falte a coragem do não, mas sobre a humildade de reconhecer um erro.

Sorte quem de que tem um pai que sabe que filho é fruta, não cai longe do pé. Mas aprende que também é riacho, vai ganhando força e se ramificando vida abaixo. Esse rio vai dar frutos a outros filhos e netos. Mas todos da mesma nascente.

A fruta não cai longe do pé, mas carrega sua própria semente. Regada com amor e carinho, um dia vai crescer, noutro florescer.

Do jeito dela, mas com o mesmo cheiro.

Talvez daí, vem aquela mágica sensação. Nos cantos mais inusitados, nos horários mais pitorescos, sentimos o perfume do nosso pai.